quarta-feira, 20 de junho de 2012

A "floppy"




Já foi há algum tempo, talvez dois anos. O acontecimento em si foi novo, até um pouco estranho. Como a familia vive de paredes meias com os montes que a rodeiam, a vida selvagem sempre por ali anda. Nessa altura já tinhamos os cães( a saber quatro: a cinzenta, a amarelinha, o preto e o castanho. Não vou dizer a cor do seu pêlo, está bem? Bom, eu sei, já perceberam.) e vários gatos e gatas que sempre nos faziam companhia. Os cães tem um sitio próprio para estarem nas suas casotas. Os gatos andavam pela quinta e dormiam num barraco de madeira com cobertura de chapa, que tinhamos construido para guardar a lenha e as alfaias agricolas. O primeiro barraco para a lenha que construimos foi com alguma madeira e um plástico para não entrar a chuva. Ficava situado da parte de trás da casa, no meio do monte que entretanto passou a ser campo depois de terraplanado.
Tempos muito engraçados em que a necessidade criava o engenho. Quando somos postos à prova e temos que buscar soluções, as coisas acabam por acontecer, muitas vezes superamo-nos. Gosto muito de lembrar esse tempo, mais novo, mais genica, menos aflição. Para garantir o conforto do lar não poupamos esforços. A lenha que cortamos e rachamos no verão é guardada para o inverno. Nessa altura como sabe bem uma fogueira, à lareira estarmos todos juntos a conversar. Gasto muita lenha durante todo o ano. Sempre que se pode cozinha-se na lareira com as tradicionais panelas pretas de fundição. Aproveitamos o calor para aquecer as águas sanitárias através de uma caldeira de inox que existe na parte de trás da lareira e um termoacumulador no sotão. De inverno o aquecimento da habitação é feita por radiadores que funcionam com a água que vem de um recuperador a lenha instalado na sala. É muito importante fazer a gestão dos recursos naturais que temos ao nosso dispor.
Um certo dia as minhas filhotas viram um dos gatos a trazer do monte um coelho, ainda pequeno, na boca. Não estava ferido, o gato apenas o caçou e o trouxe para junto de casa, talvez para nos oferecer. O que foi espantoso foi o facto de não o ter magoado, como se pegasse num filhote.À noite quando cheguei do trabalho lá fui resolver a situação. O coelho tinha sido uma alegria, uma novidade para toda a tarde se entreterem. Não era para menos, aquela bolinha de pelo fofo, de um cinzento não muito escuro. Com o seu olhar assustado, o coração se sentia a bater com muito pressa quando estava no nosso colo, junto ao peito. Mas era preciso tomar uma decisão, pensar no futuro do animal. O melhor mesmo era devolvêlo ao seu habitat natural. E assim se fez, com cuidado no colinho o levamos até uma zona onde tinha um silvado. Ai o deixamos e logo se escapuliu, ficando o assunto resolvido.
Bom, isso era o que nós pensavamos. No dia seguinte o mesmo gato voltou a repetir a proeza. Igualzinho, sem o magoar, novamente nos ofereceu aquele coelho pequenino, tão fofinho. Não havia outro jeito senão aceitar a prenda. O cabo dos trabalhos seria arranjar casa para o "Floppy", quase logo assim baptizado. E mais uma vez fomos postos à prova. Havia que imaginar e construir uma gaiola para ele morar. Costumo levar do armazém as paletes que não tem proveito. Em casa recuperamos as tábuas melhores para as nossas construções. Costuma-se dizer que quem aproveita o que não presta, tem o que é preciso. Às vezes é assim, nem sempre. A casa do floppy seria muito simples: aproveitamos uma caixa em plástico para fazer a base, pois tinha que ser vedada devido às fezes que iria naturalmente fazer. Por cima levava a gaiola em madeira dos lados, o fundo com abertura para a caixa de plástico e a cobertura seria em rede para entrar a luz.  A parte superior, a gaiola em madeira com rede,  era amovivel para se poder fazer a limpeza da caixa de plástico quando fosse necessário. Tinha uma pequena porta na estrutura da madeira com o seu nome ai escrito. Colocamos dois tubos de cartão na parte superior para servir de toca, ficar escondido. Não era muito grande, mas era o melhor que tinhamos. O fundo da caixa de plástico era coberto com terra e erva que cavavamos no quintal. Até parecia um campo verdadeiro. Assim podia passear e escavar o pouco que dava. No dia em que se fazia a mudança da terra, costumava comer a erva que junto vinha. A sua alimentação eram os restos da hortaliça, mas o que ele gostava mais era de cenoura. Quando queriamos fazer mimos ou brincar com ele, a melhor forma de ele sair da toca era com uma cenoura. Muito estranho ao principio, como é natural, com o tempo foi-se habituando à nossa presença. A "casa" dele ficava na garagem para não haver perigo dos gatos o comerem. Sempre gostei de animais, fui criado a conviver com eles. Os meus filhos também os adoram. Às vezes é muito complicado gerir as emoções quando algum morre. Mas faz parte do crescimento saber lidar com a dor, a morte. Uma noite aconteceu-me atropelar o gato, de quem gostava mais, quando estacionava a carrinha. Foi uma das piores noites que tive. O que mais me custou foi contar aos filhos o sucedido. Nessa noite o sono foi pouco, as lágrimas tomaram todos os rostos da casa. Acontece, mas que doi muito doi.
O tempo foi passando e o floppy  crescendo junto de nós. Todos os dias havia alguma brincadeira com ele. Quando o soltavamos na garagem era uma festa. Os instintos mantinham-se, fugir, procurar um esconderijo. Afinal era um coelho selvagem. Durante os meses seguintes, sempre que se chegava a casa iamos ver como estava. Sempre que havia oportunidade, as filhotas pegavam na gaiola e levavam-na para o quintal. Como a parte inferior era metade aberta, o floppy podia ficar em contacto com a erva que ali havia. Era uma alegria para ele e para nós. Sentir um pouco de natureza, comer erva fresquinha, era tudo o que desejavamos.
Já há muito tinhamos planeado construir uns currais e um abrigo para a lenha. O barraco de madeira estava a ficar "velho", era preciso fazer alguma coisa. Assim, juntamente com outras obras a decorrer, resolveu-se no final  construir dois corrais, uma divisão para as ferramentas e farinhas e outra parte aberta na frente para lenha. Os currais com 16m2 cada eram um óptimo espaço para criar animais. Com cobertura de telha, um vitral corrido a um metro e setenta de altura para dar claridade, estava perfeito. A porta em aluminio era metade com vidro fosco, para haver alguma privacidade para os moradores. E foi assim que aconteceu, cerca de um ano depois de o termos conhecido, o floppy ia estrear uma casa nova, com espaço para correr. A mudança foi marcante. Como ele estava feliz, como nós estavamos radiantes. Num canto colocamos um raizeiro grande para servir de toca, esconderijo. O floppy sempre gostou muito de cheirar tudo. As orelhas arrebitadas, muito desconfiado, lá foi conhecendo os cantos à sua nova casa, sempre a mecher o nariz. Era um sentir de satisfação proporcionar aquelas condições ao fofinho coelho, que parecia ser já da familia, como os gatos, os cães. Com o andar dos tempos começamos a achar que ele estava muito sozinho, precisava de companhia. E em pouco tempo se decidiu comprar um casal de coelhos bravos, também pequenos, para lhe fazer companhia. Decidiu-se por um casal pois não tinhamos a certeza se o floppy era um ou uma coelhinha. Mais tarde tivemos a certeza que afinal era uma floppy. A adaptação entre eles foi normal, penso eu. Mas algo estava para acontecer que eu nunca tinha imaginado. Não é que eles resolveram escavar no chão uma toca? Pois é, foi o que eles fizeram. Quando demos por ela a toca já se sumia no chão, junto à divisão que separava o corral dos arrumos. Os corrais tinham ficado com o piso em terra, enquanto que as outras divisões tinha sido cimentadas, para melhor limpeza. Agora quando iamos ao corral éra dificil ver os três coelhos. A maior parte das vezes só os viamos de rompante, a esquivarem-se para a toca. E continuaram a escavar tal era o monte de terra que havia do lado de fora da toca. De certeza que gostavam de uma toca com espaço. Um dia apareceu no meio do corral uma coelha morta. Não apresentava sinais de luta, foi estranho. O que lhe aconteceu nunca ficamos a saber. Fez-se uma cova no quintal e enterrou-se. Mais uma dor a suportar, a digerir. Aos fins de semana eu e o meu filho costumamos cortar um carro de mão de mato para fazer a cama aos coelhos. Ou seja, renovar o chão que eles pisam e onde defecam. Foi assim que eu aprendi em casa dos meus pais. Além disso vai fazendo estrume para um dia aplicar na quinta. A floppy foi sempre a que vinha até mais perto de nós. Quando chegavamos com a comida, lá vinha ela inspeccionar tudo, ver se havia algum petisco. Decerto o gosto pelas cenouras nunca o perdeu. As minhas filhotas sempre continuaram a pegar-lhe ao colo. A elas deixava, vinha ter junto delas. Não sei o porquê, mas que sempre foi assim foi. E os dias iam passando, as semanas, os meses. A floppy começou a engordar muito, depois aparecia sem bocados de pêlo. Foi fácil perceber que vinha ai ninhada de filhotes: ela ia ser mãe. Só passado algum tempo é que começamos a ver uns pequenotes a esgueirarem-se, quase não dando para ver. Um dia fiquei à espreita do lado de fora da janela, rente à noite. Coloquei comida, couves e alguma erva tenrinha, e esperei. Tive que esperar um bom bocado, mas lá acabaram por sair da toca. Nada mais nada menos que cinco bolinhas de pêlo fofo como a mãe e o pai. Apetecia ir lá e pegá-los todos ao colo. Mas não queria assustá-los. Ainda não me tinha apercebido que tinha ali um problema a resolver. Como devem saber os coelhos durante o ano fazem várias vezes criação. A continuar assim, o que iria ser? A toca não parava de aumentar sabe-se lá por onde. Continuamos a tirar a terra que eles iam escavando. A comida por muita que colocássemos, no outro dia já era. Que lindos inquilinos que eu havia de arrajar. Não pagam renda, comida de graça, assim é que é vida. 
Neste momento ainda não sei como vai terminar esta aventura com os coelhos selvagens. Por enquanto adoptamos outra estratégia para ver se resolvemos alguma coisa. Como eles não param de aumentar, o melhor mesmo é devolvê-los ao seu habitat natural, ao monte. Tenho deixado a porta do corral aberta durante a noite. Por enquanto só foram vistos alguns a passear cá fora. Só que não está a correr como esperavamos. Não tinhamos pensado que les eventualmente não queiram abandonar aquela toca. Mas é o que está a acontecer. À noite saem e comem a hortaliça mais mimosa que plantámos, e de manhã ou andam por lá escondidos ou regressam ao curral novamente. Não tenho a menor duvida que eles querem ser livres mas terem uma toca segura, junto de nós. Lá "burros" não são. Bom, por enquanto é tudo sobre a aventura da floppy que cresceu junto de nós e parece que não nos quer deixar. Até um animal selvagem sabe reconhecer quem lhe faz bem.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Caminhando por perto


    ( Um campo com o tradicional milho e ao fundo as batatas. Estamos no inicio de Junho. Não falta a   ramada com as videiras. A minha região produz vinho "verde", branco ou tinto.)       

Não tenho jeito nenhum para contar histórias. Gosto muito de as ler ou ouvir da boca de quem sabe. Uma boa história é dificil de inventar. Além do tema em si, é preciso descrever meticulosamente as personagens, o meio onde se desenrola a acção, dar uma sequência correcta aos acontecimentos, etc. Quando contamos uma passagem nossa, é muito mais fácil. Só é preciso lembrar, um pouco de criatividade pode ajudar a adornar e mais nada. Creio que em todo o lado existe sempre alguém que marca a diferença, com uma habilidade natural para inventar ou contar belas história para delicia de quem as houve. Certo é que as histórias "dos livros" são mais completas, mais longas. As histórias que o povo conta são mais simples, requerem apenas uma certa genica para muitas vezes interpretar, dar vida às diferentes personagens, ajudar a divertir. Não gosto de histórias que fomentam aspectos negativos. Admiro a criatividade, o engenho de saber fazer de algo simples uma bela história. Gostaria de fazer uma recolha das histórias que faziam parte de um tempo distante, o mais distante possivel. Como eram histórias que passavam de boca em boca, muitas se perderam, partiram junto com o seu contador.
Este fim de semana peguei na máquina fotográfica e dei uma volta pela freguesia. Não por toda a freguesia, apenas pelos sítios por onde habitualmente passeio. Nessa pequena volta parei em casa do Sr. Manuel do Martins, que mora junto à Capela de S. António, nas Agras. Conversamos  um pouco, queria saber das suas histórias. Já com noventa e quatro anos(se não me engano), a memória já não é o que era, dizia Ele. Muito bem disposto, conversador, foi-me dizendo que muitas histórias já tinha esquecido no todo ou em parte. Lembrou outros contadores de histórias "do seu tempo". A forma como falava dava para perceber que Ele pelo menos lembrava a alegria com que as costumava ouvir. Uma que Ele me contou é mais ou menos assim:
" Antigamente era hábito quando não havia muito que fazer e estava de inverno, os mais pobres abeirarem-se da casa dos mais abastados para assim poderem juntar-se à mesa. Certa vez estando alguém em casa de outrém e não mostrando grande vontade de se ir embora, começava a impacientar o dono pois a hora da ceia já estava a passar. De uma forma mais ou menos discreta e tentando enviar um recado ao visitante, vai o patrão para o criado:
- Oh criado, vai ver se chove.
Acatando a ordem e percebendo a intenção do patrão, o criado volta e assim responde:
- Oh patrão, chove e choverá. Quem estiver em casa alheia embora se irá.
O visitante apercebendo-se de tudo o que se estava a passar, não se mostrou incomodado, antes pelo contrário, e respondeu desta forma:
- Chove e choverá. Se eu estivesse em minha casa como estou em casa alheia, já tinha mandado tirar a ceia."



( Vista panorâmica. Ao fundo a Capela Nossa Senhora do Rosário.)


Toda a vida das pessoas estava mais ou menos circunscrita ao que em redor se passava. Quero com isto dizer que toda a vivência estava dependente do que a freguesia produzia, do que nela acontecia. Quem passava as fronteiras da freguesia fazia-o para se casar, ir servir ou emigrar. Haviam as casas mais abastadas que eram o centro de toda a economia da aldeia. No caso concreto da minha aldeia, o que aconteceu no passado foi um pouco estranho: a maior parte dos filhoss das casas grandes emigraram ou para o Brasil ou para Angola, no tempo em que era uma colónia Portuguesa. Ai muitos fizeram grandes fortunas, mas nem todos. Os patrões geriam as propriedades agricolas, tinham criados para os trabalhos diários e por vezes alguns "jornaleiros" quando era época de maior aperto. Com o passar dos tempos a realidade foi-se modificando pouco-a-pouco. Os criados começaram a fazer algumas terras  arrendadas aos antigos patrões, começando a ter alguma autonomia, alguma independência. Por vezes acontecia terem gado "a meias". Ou seja, cuidavam de animais que não eram seus, colhendo para si no caso das vacas, o leite que elas davam. Quando pariam crias eram para o dono dela que geralmente era algum negociante de gado ou alguém mais abastado. Tempos de muita luta pela indepência que os pobres gostavam de ter, normalmente após o casamento. Crescendo a trabalhar como criados, o casamento surgia como uma oportunidade de erguer a sua própria vida. Não era fácil conseguir terra para cultivar. Arrendavam os campos mais fracos, mais pequenos, com menos água, os que ficavam mais longe do lugar. Mas era assim ou nada. Os melhores campos eram pertença das casas mais abastadas. Hoje muitos campos estão abandonadas, sem haver alguém que os queira cultivar. É caso para dizer que é ironia do destino. Outrora disputados como se de uma namorada se tratasse, hoje veem-se sós, abandonados, já não amados. Mas os tempos estão sempre a mudar. Sabe-se lá qual o futuro, como será daqui a algum tempo. Um campo de cultivo hoje não é muito valorizado. No entanto, poucos percebem o seu potencial. Não é apenas mais um bocado de terreno. Os campos das aldeias, pelo menos a maioria, são fruto de muito trabalho humano e de séculos de empenho da natureza que os transformou em bons terrenos de cultivo. No inicio era apenas monte. O homem juntou-se em grandes grupos, primeiro retirou a terra preta, com humus, que cobria o solo para um lado. Depois escavou para nivelar o terreno. Enquanto escavava, ia separando as rochas para um lado e a outra terra fina para outro. Quando atingiu a profundidade pretendida, começou por espalhar as rochas no fundo, depois cobriu com a terra mais fraca e por ultimo colocou a terra que inicialmente tinha separado. Quando a terra boa era pouca, ia buscar onde havia e trazia com os carros de bois. O trabalho era todo manual, com picaretas, enchadas, pás, maceiros para transportar a terra e as rochas. Muita gente era preciso, muito tempo demorava. Quando o terreno era muito inclinado, construiam-se combros com a pedra que havia no local ou que era trazida de onde havia mais. Poucos imaginam, hoje ao olhar os campos, o trabalho que ali está. São bonitos de ao longe ver, quando cultivados, quando bem tratados. Bonitas fotos, bonitas paisagens preenchem. Mas para o habitante, para quem os trabalha, a sua beleza está nas colheitas que eles lhes dão, a casa farta para o ano inteiro. Na casa que construi, o terreno em redor era todo monte. Ao longo dos anos, eu e toda a familia, com a ajuda de pessoas e máquinas que pagamos para nos ajudar, temos vindo a transformar aos poucos em terreno cultivado. Demora muitos anos, é preciso muito trabalho. Todos os anos ainda continuamos com o balde a acompanhar qualquer trabalho de sementeira e não só, para recolher as pequenas pedras que aparecem e que em seguida colocamos num pequeno "monte" a um canto na quinta. A terra por enquanto ainda é "pobre", ou seja, tem pouco alimento, pouco humús. Quando mais pobre é a terra, mais regas precisa para produzir. As árvores de fruto no quintal são muito importante dado que as suas raizes vão fundo à procura de humidade. Ajudam a reter a água das chuvas, dão sombra nos dias muito quentes, e sempre vão dando alguma fruta.
É com alguma tristeza que olho um campo abandonado, sem estar cultivado. São os sinais do tempo, um tempo diferente. Valorizam-se outras actividades, outras formas de levar a vida. Os campos deixaram de ser rentáveis, de dar o pão que as pessoas querem. Não sei o porquê. Talvez saiba, mas não compreendo bem. Apoiam-se tantas coisas e destroi-se a agricultura tradicional como se de uma doença se tratasse. Num mundo que diz valorizar o crescimento sustentado, a preservação do habitat, das espécies nativas, incentivar a cultura biológica, sem produtos quimicos, que melhor exemplo podemos ter que a agricultura que era praticada pelos habitantes das aldeias, como os meus pais? Usavam o mato que cortavam nos montes para fazer o estrume com que alimentavam as terras. Dessa forma limpavam as matas evitando os incêndios florestais e obtinham um alimento natural para as suas sementeiras. No contexto actual este tipo de vida é impensável, não é viável. O que mudou para tal acontecer, ao certo não sei. Apenas sei que a agricultura que hoje se pratica na freguesia é de dois tipos: por quem tem vacarias com muitos animais, maquinaria, em grande escala ou aqueles que cultivam apenas para complemento do orçamento familiar, tendo sempre como principal ocupação um trabalho remunerado.
É sempre com alguma nostalgia que se recorda o passado. Os amigos de infância que tiveram que partir à procura noutros locais do sustento para a família. Muitos acabam por sair da freguesia, começar família noutras terras. É com muita tristeza que os vejo partir. A vida nunca mais será a mesma. A nossa infância fica um pouco retalhado, um pouco por todo o lado, levada por quem parte, por quem tem de partir.
Por enquanto ainda por aqui estou. Amanhã será sempre um novo dia, sabe-se lá como será. O que eu gostaria mesmo era que o que quer que acontecesse fosse vontade minha, não necessidade. Mas sou apenas mais um que a vida tem que levar," a sua cruz tem que carregar".

( Habitação restaurada. Um lindo recanto.)

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Num instante



A vida não é um instante. Será marcado por muitos instantes, que nos acontecem, sem estarem planeados, apenas acontecem. As expressões mais correntes que usamos condensam por vezes tudo como se de um instante se tratasse. "Vou ali num instante","a vida passa num instante","tudo aconteceu num instante", e continuando.... Mas afinal quanto dura um instante? Será um relativizar em função do esperado normalmente, demasiado rápido? Deve ser um pouco por ai. Detesto ouvir " isto é um instante a fazer", quando na realidade não o é. Acontece-me muitas vezes no trabalho ou noutras ocasiões. Quem o diz estabelece à partida uma pressão, uma medida de tempo  a cumprir. Raios partam os relógios. Só servem para me atrasar. Sempre que posso, tiro-o do pulso, arrumo-o a um cantinho. Gosto do pulso livre, sem nada a pesar-lhe. Em miúdo tinha uma grande admiração por máquinas tão certinhas serem. Ainda gosto, mas por vezes não sei que lhes diga, sempre a comandarem-me é que não dá. Desde o despertador a acordar-nos, todos os movimentos do dia tem uma hora já definida. O tempo sempre passará , com ou sem relógio. O jeito como passa é uma outra história. O jeito como gostaríamos que passasse é que seria uma bonita história. Ser o senhor do tempo, das mudanças, de num jeito despreocupado viver. 
Vivemos uma vida a pensar um dia termos um tempo só para nós, só para fazer acontecer os pequenos sonhos que vamos guardando, à espera daquele dia. Acreditamos piamente que esse dia vai existir, que tudo vai acontecer. Se esta ilusão se desfaz, o que será de nós? Por vezes estamos demasiado pesados para voar. Libertar-nos de tanto peso que trazemos nas agendas, nas rotinas diárias, será de certeza acto louco, não compreendido. O nosso comportamento está definido em padrões socialmente aceites.
O falar com os nossos botões, o recriar em nossas mentes uma outra continuação de uma realidade passada, fica sempre segredo. Seremos eternos sonhadores, senhores de um outro tempo que só a nós acontece, roubando aquelas "personagens" que toda a vida amaremos platonicamente. Por vezes apenas nos apetece encostar a cabeça ao travesseiro, ao banco de um qualquer autocarro, comboio, dizendo para nós próprios que daqui a um instante estarei lá. Nessas viagens só o destino existe, renegando toda a viagem em si. No entanto a viagem deve ser em si mesma também "destino" a viver. Durante a viagem a vida continua, o senhor do tempo não adormece, as coisa vão acontecendo. Durante a viagem tantos outros "destinos" nos acontecem. Quero estar acordado a viagem toda. Sei que sonhei sempre com o destino, mas por agora quero a viagem viver, pois não sei se o "destino sonhado" chegarei a viver. Desejo estar no meu travesseiro, no encosto de um qualquer "banco", contemplar  a paisagem que foge do outro lado da janela, acariciar esse rosto, esses cabelos, num beijo doce e quente. Quero não estar só durante a viagem mesmo que seja apenas um instante.
De mãos e coração dado, vamos atravessar as paredes, as janelas que aqui nos aprisionam. Livres, mais leves que o ar, iremos viver todos os destinos, todas as paragens deste trem que as linhas da vida percorre. Seremos companheiros das aves que voam, dos peixes que nadam, por todos os lugares por mais impossíveis de imaginar que  sejam, lá estaremos. Seremos viajantes de todos os mundos, em todos os mundos, apenas desfrutando os nossos sonhos. Não mais seremos prisioneiros, mesmo que para isso do corpo nos tenhamos que separar, ausentar por instantes que sejam. Quero contigo correr de braços abertos, cortando a brisa, baloiçando como as flores que nos prados verdejantes a nossos pés se estendem. A flor mais bela para ti colherei, para que ao vento possa voar nos teus cabelos que esvoaçam com as nossas correrias.
Desejo tantos instantes criar, só para os viver.  Que o instante que a diva "demora" a passar, ou, que o instante que a vida é, sejamos senhores do tempo, de todas as paisagens criadas( pela natureza) ou inventadas(nos nossos sonhos), do vento que nos faz voar, dos oceanos que nos acolhem sem precisarmos de respirar, diluidos seremos na tela que em nossos sonhos vamos pintando. Quero tanto sentir-te, voltar a caminhar a teu lado, olhar o teu sorriso, o jeito de brincares de um outro tempo que parece nunca passar.
Tanta saudade sinto do que passou, dos instantes que ainda quero viver. Serei guerreiro, de lança em punho e escudo, armado. Que nem um, D. Quichote contra todos os moinhos lutando, todos que me querem aprisionar, destruir os meus sonhos, os nossos sonhos. Arte e engenho buscarei em todos que outrora as mesmas batalhas travaram. Serei servo da espada da liberdade em todas as batalhas até que a guerra para mim finde. A espada continuará sempre esperando quem a pegue, a eleve, a maneje em gestos graciosos ou determinados, cortando o vento, cortando. Porque esta guerra de pela liberdade lutar nunca terá fim. Por cada sonho que ouse o sonhador revelar, mais uma batalha terá que enfrentar. Tais serão os "Adamastores" eternos que à espreitam estarão, para fazer vacilar, desistir de tão bela viagem não prosseguir, o destino não atingir. Será enorme o coração daqueles que o ousem enfrentar, sem nunca vacilar no desejo, mesmo que o peito deixe de respirar. Adormecerão sobe ou sobre as águas calmas ou agitadas, eternamente lembrados.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

A dor que existe


Uma guerra silenciosa se vive,
em todo o mundo presente.
A cada instante se cai, ausente
da luta por quem sobrevive.

Os olhares famintos a dor já não sentem.
O pão já não sacia a fome por não existir.
Que destino hediondo, sem nada para sentir,
nem umas lágrimas haverem para libertarem.

Que a morte possa tranquilizar
o que o homem não quis evitar.
Que a morte os possa alegrar
do sofrimento de tanto esperar.

Que exista o Céu, o paraiso,
para estes santos olhos acolher.
desde o nascer até ao morrer,
foi sempre esperar somente um sorriso.

Oh pais que vossos filhos embalais,
nesses braços vergados, curvados,
de Deus nunca vos esqueçais,
já que dos homens estais desenganados.

Perdoai-me de todos os meus pecados,
de a vida não poder oferecer por um amigo.
Ofereço-me nestas palavras, abençoados
pela dor que sinto e esquecer não consigo.

A vós que eu vejo tão longe, mandarei
pelos filhos que crio, pelos pais que estimo,
pelos animais que cuido, pela terra que cultivo
tudo de mim, tudo para vós, que tão longe estais.

No canto que Deus me deu para viver,
tudo de bom semearei para que cresça,
um dia floresça e veja sementes a crescer
que o vento pelos céus levará e a vós ofereça.

As sementes que das vossas mãos voam
caiam espalhados na terra para germinar.
Cânticos alegres adormeçam os que sonham,
os que o mundo poderão talvez um dia mudar.

 O meu sentir profundo por todos que no mundo habitam e nada podem fazer para se defender, se cuidar, seus filhos ver crescer. Para todos que sofrem a maldade de outros homens, que vagueiam à procura e não encontram. Por todos que lutam, sobrevivem, cuidam, não se resignam, dão o seu melhor todos os dias. Que de alguma forma isso possa um dia fazer a diferença se formos cada vez mais. Se unirmos os nossos braços talvez um dia o mundo possamos abraçar. Que os que adormecem na dor, possam sonhar, possam voltar a acordar. Que haja Deus para todos.


quarta-feira, 13 de junho de 2012

A nova escravatura

Lançando um olhar sobre o mundo actual, várias situações prendem a minha atenção. Reflectindo um pouco, vasculhando a história recente, parece que algumas situações que acontecem são uma repetição do que há poucas décadas já vivemos, enquanto sociedade. Não sendo do tempo da ultima grande guerra, fico no entanto preocupado com os sinais negativos que crescem dia-a-dia. Esta questão das dividas Soberanas é muito séria. Qualquer país necessita de estabilidade quer a nível politico quer financeiro. A ruptura de qualquer um deles traz consequências que não são mensuráveis antes de acontecer. Isto é um pouco do que se passa à semelhança dentro de uma família. Podemos não perceber nada de politica ou economia, mas sabemos com facilidade ver o que altera o equilíbrio de uma família. Com o país é igual, só que noutras dimensões. A atitude das grandes potencias não é adequada para resolver as situações. Pode ser legitimo pensar que esta crise interessa a uma das partes. De facto, "na natureza nada se cria e nada se perde: tudo se transforma". Um pouco à semelhança de um qualquer jogo de sorte ou azar, o que uns perdem, os outros ganham. Mas os povos aguentam o sofrimento até um ponto. Passado esse limite, começam as convulsões sociais, o povo sai às ruas, torna-se incontrolável. Penso que os grandes lideres saberão disso. Então pelo que esperam? É urgente alguém tomar uma posição de frontalidade para os problemas reais e procurar soluções viáveis e de uma forma sustentada para o futuro. Não se pode andar sempre a remendar a roupa velha. Há um momento em que já não dá mais, são precisas novas visões, outro pensar mesmo a nível económico. Todos sabemos que o equilíbrio da nossa sociedade actual assenta no crescimento. Mas também sabemos que é utópico pensar que se pode estar sempre a crescer. Haverá um ponto em que já não dá mais, todas as soluções esgotarão. Numa árvore de fruto procede-se à poda todos os anos. Isto para provocar um novo renascimento da própria árvore, continuando a dar fruto. Se não se fizer, a árvore passados alguns anos terá só troncos velhos, sem produzir.
As sociedades tem que ter a capacidade de se reinventar dentro delas, não precisarem de invadirem e escravizarem outros povos mais débeis para alimentarem as suas luxurias. A globalização da forma que está a acontecer não é benéfica para os povos mais pobres. Não sei mesmo se a globalização é a melhor forma de estabelecer harmonia entre os povos. A procura do domínio do mundo será sempre uma realidade. As grandes potências mundiais sempre mostraram que o seu principal objectivo é garantir o bem estar dentro das suas fronteiras, para o seu povo. Vão criando hábitos de vida cada vez mais difíceis de sustentar, necessitando obter recursos naturais a qualquer preço, orientando as politicas económicas de modo a sufocarem quem não lhes obedecer.  Associam a isso o poder militar para que não hajam dúvidas. Se necessário é provocar uma guerra neste ou naquele país, não hesitam, não pensam nos milhares de inocentes que irão morrer ou ficar a sofrer. Da mesma forma atacam o tecido económico da forma mais bárbara que se possa imaginar, não parando enquanto não o destruírem. Depois obtém o monopólio e ditam sozinhos as regras que querem. Numa dependência quase total, os povos dos países pobres são escravos livres. Sim, porque esta nova forma de escravatura é tão degradante como qualquer outra. Não sei se haverá algum dia forma dos estados mais pobres poderem defenderem-se deste tipo de agressão. Dissimulada, meia invisível ao chegar, muito penosa quando se instala. O que realmente me faz mais confusão são os povos, os cidadãos,  desses países apoiarem os seus lideres quando eles na sua maioria já viajaram pelo mundo, conhecem de perto outros povos que também os acolheram. É da maior ingratidão que pode existir, um dia acolher na minha casa um visitante, tratá-lo com todo o respeito e boa vontade, para passado um tempo ver a minha casa ser "saqueada" por esse mesmo viajante. Segundo um estudo já publicado, na Alemanha Nazi, a maioria da população era contra o líder, Adolph Hitler. No entanto deixaram acontecer o que aconteceu. Desde há muito que a Alemanha e mais dois outros países dominam a Europa, a Comunidade Europeia.  Vejam o que se está a passar com os povos dos países mais pobres. Que forma tão triste de se fazer parte de uma comunidade unida. Eu não quero dizer com isto que também não hajam falhas dentro dos países mais pequenos. Existem, devem ser corrigidas. Mas num grupo de amigos, quando um é atacado, todos reagem a defendê-lo. Neste ataque dos mercados financeiros, as vitimas foram presas fáceis, tirando proveito de terem sido abandonadas pelo grupo, ficando expostas, vulneráveis, indefesas. Quando observamos o mundo animal é fácil ver como os predadores atacam, isolando um membro do grupo de forma a ser mais fácil a sua captura. Até um cardume de peixes se defende em grupo. Os mercados financeiros são o que são. Sem qualquer moral ou sentido ético, atacam sem dó nem piedade, destruindo economias, destruindo países completos. Como é que os países mais pobres se podem defender deste caos em que estarão sempre mergulhados? Não é fácil obter uma resposta conclusiva. Existem alguns procedimentos que podem ser adoptados, mas acho que a solução passará pela mentalização dos povos das grandes potências para a imoralidade da atitude dos seus governantes e grandes grupos financeiros. Se um dia todo e qualquer habitante deste pequeno planeta resolver dizer não, seja do jeito mais simples como não ir trabalhar, não pegar no carro, não ligar a TV ou o computador, talvez quem tome as decisões pare para meditar no que realmente está provocando. Mas uma outra questão se me levanta: de onde vem os lideres, que formação tem, são apenas "paus mandados" de grupos de interesses? Realmente que tipo de democracia se está vivendo? É difícil pensar de barriga vazia. Como resultado de toda esta "trapalhada", o desemprego alastra como uma epidemia, destruindo vidas ou simplesmente não permitindo sequer o seu começar. As famílias já não sabem mais que fazer. Quem está empregado ou tem trabalho vive os dias vergado às ameaças dos patrões do despedimento eminente se não acatar tudo que lhe é imposto: salário, horário, condições de trabalho. Quem está desempregado não vê melhoras num futuro breve, vivendo os dias com os olhos postos no eventual fim de um qualquer subsidio que esteja recebendo.
Num mundo pautado pela inovação tecnológica que não para, é fácil compreender que cada vez é necessária menos mão de obra para produzir ainda mais. Como é que vai haver trabalho para todos? Quando uma família se reúne à mesa para uma refeição, normalmente reparte-se o que há entre todos, de forma igual. No caso do trabalho é possível pensar do mesmo modo? Como é que isso seria exequível? Todos os países adoptariam as mesmas regras de forma a que não houvessem disparidades no factor custo da produção de um qualquer artigo? Haveria seriedade, respeitariam todos as mesmas regras do jogo? Será que é possível apenas imaginar? Não seria isto uma forma de doutrina Comunista? Como é que vamos todos fazer para elaborar uma estratégia que assente numa sociedade sustentável mas não retire a liberdade individual ao cidadão comum? Todos nós pensamos em muitas pequenas soluções para esta ou aquela situação concreta que conhecemos. No entanto não conseguimos interiorizar nem alcançar as repercussões que essas alterações provocariam no funcionamento global desta máquina complexa que é a nossa sociedade. Um pouco como apertar um parafuso numa máquina sem medir as consequências que essa alteração vai provocar no funcionamento da mesma. Por muito que pense, não tenho formação nem capacidade para dizer o que é melhor. Limito-me a ser mais um analista de rua, um treinador de bancada. No entanto este "jogo" diz-me respeito pois a minha vida depende dele. Todos os projectos, sonhos que tenho para realizar estão dependentes do rumo de toda a sociedade. Não vivemos isolados, fazemos parte. Quer se queira ou não, poucos podem dizer que o que se passa no todo não os afecta. O meu maior receio é que se cometam os erros do passado, que o ser Humano não tenha mais para dar de si, para visionar outra forma de resolver os problemas que não uma nova "grande guerra".
Sinto-me agoniado só de pensar em tudo que estou escrevendo. Saber que pouco ou nada posso fazer para enfrentar tudo que me asfixia, não deixa viver em pleno, sujeito a cumprir esta e mais aquela obrigação fiscal que me vão impondo. Não é possivel viver à margem desta sociedade, não o permitem. Quem o tenta fica marginalizado, marcado, não tem como escapar. Como chegamos novamente a este ponto, os mercados financeiros a comandar tudo e todos, depois de já num passado não tão distante em que o colapso nos atirou para as bichas na rua à procura de uma sopa? Não há quem consiga controlar este monstro sem misericórdia?

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Todos os nomes

Sempre que começo a escrever um texto tenho por hábito pensar no titulo que lhe quero dar. Acontece muitas vezes que o texto não se adequa ao titulo. Mas pensando um pouco acho que é ao contrário. É um hábito este pensar assim, para isto ou para aquilo que faço na vida. Vezes de mais nos preocupamos com os "títulos" das coisas, do que queremos fazer. Às vezes acontece não nos metermos à obra só por que nos falta um bom titulo. Que seja, que este texto não tenha titulo, tanto me faz. Quero escrevê-lo e é isso que vou fazer. De uma forma singular vem-me à memória a história dos nossos nomes. Não estou a comparar o nome a um titulo, mas é engraçado ter pensado nisso. Vamos brincar do faz-de-conta, e imaginar como terá surgido o nome de cada um. Bom, imaginar não será o caso, vamos é questionar os nossos pais e ver a atrapalhação deles, que "história" irão inventar. Estou mesmo a ver muita cabecinhas a magicar, a inventar a história que querem ouvir. Por mim acho que não preciso perguntar: tenho o nome do meu padrinho. Isto é, igual, pois ele continua a ter um nome só para ele. Era hábito e costume na minha aldeia os padrinhos darem o nome aos afilhados. E nome mais bonito que igual ao deles não havia. Bom, era assim, todos gostavam. Já com os meus filhotes a história foi diferente, eu e a minha esposa é que escolhemos, e acreditem ou não, mais bonitos que os seus nomes só mesmo eles. Pronto, já sei, todos os pais pensam o mesmo dos seus filhos. Ainda bem que é assim, somos todos os mais bonitos do mundo, pelo menos ao olhar de alguém.
Gosto do meu nome, já há muito que me afeiçoei a ele, desde o baptismo. Isto de não ter nome deve ser complicado, quase como um texto sem titulo. Acho que tudo que conheço tem nome, não me lembro de algo sem nome. Deve ser porque à nascença, no acto em que é criado, descoberto, a primeira coisa que se lembram é de o baptizar. É sim senhor, pensem nas descobertas ciêntificas e no enorme orgulho que o ciêntista tinha em lhe dar o nome que queria, nos descobridores quando avistavam uma nova terra. Não importava o que os outros podessem pensar, era assim que se iria chamar. E ficava assim, todos o chamavam do mesmo jeito. Por vezes acontece mudarem o nome às coisas, as pessoas escolherem um outro nome. Mas não sei que parece, é meio estranho, hoje ser chamado de um jeito e amanhã de outro. Não sei mesmo o que parece. Mas é bom haver essa liberdade, como outra qualquer liberdade no sentido recto da palavra. Mudar o nome pode baralhar hábitos já enraizados, questionar o gosto de quem primeiro escolheu. O nome fica associado à pessoa, ao objecto. Quando falamos de "A" ou "B", não conseguimos separar o nome da personalidade dessa pessoa. Por isso se associa ao nome principal os apelidos da familia progenitora, em geral do pai e da mãe para melhor se identificar a quem nos referimos ( "chapêus há muitos"). Contaram-me que os "Nobres" tem um nome que não acaba mais. Isto porque faz referência até ao inicio da "Dinastia". O meu nome vem acompanhado com um par de apelidos, primeiro o da mãe e de seguida o do pai. Mas a acontecer assim, o que vai passar para para a geração seguinte será apenas o apelido do meu pai, não o da minha mãe. Não sei se concordo muito, se calhar deviamos ser todos "Nobres".
Este gosto de um nome atribuir a toda e qualquer coisa, mesmo até aos fenómenos da natureza, torna mais fácil a sua memorização, o estabelecer de uma ligação com o facto, o acontecimento, a coisa em causa, a individualidade de que se fala. Desde as tempestades e os furacões, aos movimentos politicos ou artisticos, às guerras e suas batalhas, tudo tem um nome. Dar o nome a algo estabelece quase como um laço de paternidade, uma ligação eterna. Se na vida devemos plantar uma árvore, ter um filho, escrever um livro, já nem tudo me falta. Gosto muito de plantar árvores, de fruta ou não, regar, cuidar e ver crescer. A pequena agricultura que faço junto de casa faz-me reviver os tempos de menino com os meus pais. É um mundo diferente, sinto-me senhor do pouco que faço, sinto que crio realmente algo. Um dos privilégios que o agricultor pode desfrutar é o sentir que é parte criativa da mãe natureza.  Num mundo em que cada vez somos mais um elemento de uma qualquer estatistica, sinto a necessidade de procurar algo em que seja singular,  não ser apenas mais farinha do mesmo saco. Esta coisa de seguirmos as estatisticas de tudo e de nada dá-me confusão, revolta. Se somos de uma religião somos este e quele, se pertencemos a um partido a mesma coisa, e por ai adiante. Poucas vezes somos realmente descobertos, avaliados no nosso todo, seres únicos. É importante sentir uma condição de singularidade, afirmarmo-nos pelo nosso ser, dar ao nosso nome uma forte personalidade, deixar alguma marca, por mais ténue que possa parecer. Se não chegarmos mais além, que onde se chegue se faça sem perder os valores da honra, da dignidade, do respeito pelos outros e também por nós. A tentação de "cortar caminho", ir pelo mais fácil não deve ser opção. Uma grande construção deve assentar em bons alicerces. Se assim não for, com o tempo demoronar-se-á, tombará por terra, ficando apenas um monte de entulho. Que a nossa vida seja mais do que isso. Que de alguma forma possamos marcar o nosso tempo com a nossa presença positiva, empreendedora na construção de algo. Que os dias sejam longos e cansativos, mas sempre livres. A interpretação da liberdade é um grande desafio a todas as nossas capacidades. Só se é realmente livre quando se respeita também a liberdade dos outros. Oxalá que a nossa vida seja uma história com nome próprio e apelidos, diversas personagens, todas principais, num cenário real com muita imaginação.

sábado, 9 de junho de 2012

Aquela flor

Uma flor te quero dar. Uma flor quero encontrar para te oferecer. Mas que flor? Onde poderei eu encontrá-la? Não sei bem onde começar a procurar, a flor que te quero dar. Não pode ser uma flor qualquer, ou pode? Porque uma flor será sempre uma flor. Não estou preocupado com o tamanho, a cor, a forma, o aroma. Apenas quero uma flor que seja flor, seja obra da natureza, um aroma doce e libertador da mente, que me inspire. Onde encontrarei tal flor: num jardim ,  nascida numa encosta, num monte qualquer, junto a um ribeiro, numa frincha de uma rocha, bem no alto, no topo da escarpa? Que flor irei colher para te dar, como saberei que é aquela, e não mais nenhuma? Terei que sair do meu canto, por-me a caminho, procurar por onde possa imaginar encontrar. Não sei ao certo o rumo, lembro alguns lugares que de aroma tão intenso e doce paravam meus passos, apenas para as contemplar. Sim, porque aquelas Deusas no seu templo estavam e desejavam continuar a estar. Não eram flores para ser colhidas por um qualquer, ali tinham nascido, sozinhas, sem cuidado algum de um qualquer humano. Livres e selvagens, só assim a sua beleza era tão intensa, tão inspiradora. O que  que a natureza pode criar. Sim, pois a sua mãe mais orgulhosa não poderia estar. E se, num acaso tão estranho, a encontro, tão bela e adornada das cores mais vivas,  e não a posso colher, a flor para te oferecer? Como farei para até a ti a levar, sem do seu pé a cortar? Ainda não me pus a caminho, ainda não fiz a caminhada para a descobrir, e já me sinto a desistir de uma flor para ti colher, oferecer. Não quero pensar mais, vou sair por ai, correndo os carreiros dos montes que eu  conheço. Se não a encontrar, a flor que te quero dar, inventarei novos carreiros, subirei outros montes, descerei até todos os ribeiros ou rios só para a encontrar, a flor que te quero dar. Mas porquê uma flor oferecer? Que te quero eu dizer? Confuso me sinto, por tanto procurar e a flor não encontrar. Mais perdida do que eu, ela deve estar dos caminhos que piso, descalço, sentindo a terra, inspirando os aromas que liberta para os reter o mais possível dentro de mim. Aí como me sinto inquieto, impaciente, por ainda não ter encontrado a flor para ti, só para ti.
Se a encontrar, que fazer para a colher sem a ferir, a magoar, uma tão bela flor? Irei pedir ajuda Divina que me siga e diga o que devo fazer  para aquela flor colher, sem ela murchar, perder a beleza e a vida que fazem dela a flor que eu te quero dar.
Quando a encontrar, por certo com ela irei falar. Dizer tudo o que me levou até ela, o porquê de todas as interrogações que  fiz até decidir ir à procura, as dúvidas que ainda tenho, mesmo sabendo que uma flor  quero oferecer. Quererá ela ser a minha flor?  Saberei as palavras certas para que ela queira ser a flor que te quero oferecer? Apenas lhe posso contar tudo, confidente minha será de tudo que a vida em mim é. Não mais me preocuparei se sou ou não merecedor daquela tão bela flor, que um dia decidi colher, só para a ti oferecer. Ao seu julgamento me submeterei de livre vontade, sem nada desejar. O que acontecer não irá mudar nada do que até ali decidi. Por uma flor te querer oferecer, de um caminho percorrer só para a encontrar, a flor para te dar. Nada desejo mudar por te querer, uma flor oferecer. Se a tal flor encontrar e por mim ela não desejar ser colhida, não me arrependerei de em ti pensar, em ti sentir que uma flor podia oferecer. Triste estarei e ficarei por não ter uma flor para te oferecer. 
Pela mão te pegarei e não mais largarei. Vou levar-te por todos os montes da minha vida, oferecer-te todas as flores que queiras colher com o olhar, respirar o seu perfume doce e tranquilo, tocar-lhe e sentir, mas sempre sem as colher, por tão belas e livres elas serem e quererem sempre ser. Quero que colhas todas as que desejares, e que as tragas aos molhos no colo do teu olhar. 
Uma flor há muito desejo encontrar para ti. Uma que seja  a mais colorida, a mais formosa, a mais cheirosa, de todas a mais bela. Será que vais aceitar a flor que eu encontrar para te dar?

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Olhar o olhar

Era assim, num olhar delicado, frágil,  que via quem ao redor estava, sentia quem não estava. Sem saber ao certo interpretar o seu significado, do olhar, procurava sempre descobrir algo.
O sentir, o comunicar com o olhar sempre me fascinou. Os olhares sempre me transmitiram muito. A forma como alguém o faz, a intensidade com que colhe tudo em redor. Mais do que a cor, o tamanho, são as expressões que ele manifesta. Não sei ao certo se sei avaliar um olhar. O que sei é o que sinto. E o que sinto nos olhares vai muito além do que eu possa compreender. Tantas  vezes de uma  forma tão intensa que nos fragiliza, quebra as muralhas que nos protegem, ficando expostos, quase "nus". Quase sempre me deixo levar, sem querer compreender tudo. Lembro mais os olhares que o rosto. Gosto de ser sincero com o meu olhar. Ás vezes tenho medo de me tornar transparente, recolho-me, procuro abrigo. Poucos merecem partilhar o que nos vai na Alma. 
Um pouco a história da janela aberta. O ser discreto, o gostar de estar onde se gosta, nada mais. O não deixar nosso olhar se aprisionar, preservando sempre a sua liberdade, o poder colher o mel em todas as flores, o beber em todas as fontes. Só de observarmos o olhar de alguém  podemos sentir se nele há alegria, vida, se é livre, se gosta de ser livre. Quantos poemas segredamos baixinho com o nosso olhar.Quero partir em busca dos olhares que eu um dia senti. Para lá das mais altas montanhas olhares devem existir que são puros, de uma beleza que nos absorve completamente. Quero tanto deixar-me aprisionar por aquele olhar que sempre me deixou ser livre, o olhar de menino. Longe de toda e qualquer mentira, busco perdidamente quem um dia me levou no seu olhar o meu olhar de menino. Há momentos que tentamos controlar nosso olhar, fazer sentir o que achamos que devemos deixar voar em redor, um pouco uma camuflagem que esconde o verdadeiro olhar, o sentir que na alma nos vá. Por medo, receio, para nos proteger, não ficar vulnerável. Mas nos momentos mágicos, que descobrimos na nossa vida, podemos abrir as janelas de par em par, deixar toda a luz entrar, em todos os bocados da nossa alma se alojar. E nesses pequenos e fugazes momentos, tornamos eternos os olhares que colhemos, que guardamos, como se de um paraíso se tratasse.
De tantas formas vamos sentido os olhares pela vida que vai crescendo, a tela que pintamos como uma doce e delicada aguarela de todas as cores. Hoje, já um pouco cansados, estes olhos que já foram de menino, que souberam rir,  choram. Não é um choro de tristeza, é um choro de saudade. Que alegria é pegar ao colo um filho e sentir o seu olhar, tão puro, tão sincero nos abraça, nos aperta o coração. Como nos esforçamos para esquecer as  amarguras da vida,  tentando retribuir, voltar a ter um olhar do tamanho do nosso menino ou menina. Mas só se torna sincero quando nos deixamos absorver pela magia do momento, como se uma luz divina ofuscasse tudo o resto. Então permanecemos como que a levitar, somos mais leves que o ar que respiramos. 
Ai de nós se pela caminhada da vida não temos pequenos instantes como este. Ai de nós. Que vazio seria o nosso olhar, sombrio, sem vida, sem luz. Que vazios seriamos. A saudade pede-me para ir por ai em busca dos olhares que ela um dia conheceu, antes de existir, e que por isso existe. Quero ir com ela, procurar por todo o espaço habitado esses olhares, que foram de alguém que um dia me olhou, tocou. Tão intensamente que parece perdurar eternamente.
Quero enquanto sentir, colher os olhares que me afeiçoam, me acarinham, me compreendem, me amam. Quero sentir que o meu olhar tem janelas abertas por onde anseiam que entre. Dias haverá que apenas o chão verão, as lágrimas pela face não escorregaram, um ombro amigo molharam. Mas não deixará de ser o meu olhar, o meu sentir, o meu estar de alma. O meu menino no colo hei-de embalar até sossegar, deixar de chorar, com os anjos  adormecer. Quantos olhares todos os dias desejamos encontrar, sorrir com eles? E quantos, sabendo que não vamos encontrar, um dia decidimos ir à procura, quebrar rotinas, dizer não aos que não nos amam, não nos querem bem? Que coragem seria preciso ter para tal loucura cometer?

Se do futuro queremos falar,
não basta a saudade invocar.
Os olhares que um dia colhemos
por certo não mais acharemos.

foram tempos que já foram,
momentos  que aconteceram.
A existir, será outro olhar,
outro sentir que devo esperar.

O sonho quero sempre guardar,
com memórias o vou alimentar.
Poderá um dia deixar de ser
e, para meu espanto,  acontecer.

A si, que também gosta de admirar os olhares que o rodeiam, estar atento, interpretar, sentir, ser discreto e delicado, saber respeitar, convido a ouvir um dia destes uma música que eu gosto muito: Ana Carolina e Seu Jorge " é isso ai".
Eu por vezes também não sei parar de olhar, de te olhar, beleza humana ou não, simplesmente o céu à noite nas estrelas adormecido. Tantas vezes o nosso olhar queremos guardar só para quem nos ama. Com a vida aprendemos que existi o ver com os olhos e o olhar. Tudo devemos ser capazes de ver, enfrentar sem medo. Mas o nosso olhar, esse ver envolto em sentimento, deverá ser sempre para quem nos ama, nos quer bem. 

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Catequese

" Vinde a Jesus". É uma frase que há muito andava guardada. Esta frase está inserida num contexto particular: as cerimónias da "Profissão de Fé" ou "Comunhão Solene". Não é uma frase qualquer, mas um apelo para que alguém se levante, se ponha a caminho. Desejo apenas fixar toda a minha atenção num determinado momento, num local sagrado, cheio de gente, cheio de vida, cheio. A igreja está sempre bonita. É sempre um local que nos incute respeito e nos leva a meditar, mesmo que de pouca fé sejamos. Neste Domingo algo em particular me surpreendeu: o chamamento dos "Anjinhos" aos meninos que faziam a sua "Comunhão Solene" com a expressão" Vinde a Jesus".
A minha mãe lembrou outros tempos, que era assim e depois deixou de ser. No tempo "dos dela" não foi nada assim, como quando foi no dela. É bom alguém lembrar, alguém não deixar esquecer, porque existem coisas que nunca se deviam esquecer. Achamos que os tempos são outros e, por assim dizer, também as necessidades. É possível que assim seja. Pelo menos a esmagadora maioria assim nos faz crer. Mas será que o Homem mudou assim tanto o seu ser intimo? As suas necessidades são só alimentar o corpo e a luxuria? Então como se pode explicar que mesmo tendo tudo se sente tantas vezes um vazio imenso? Mas o que falta então? É algo que tantas vezes nos colocamos. Falta-nos tudo, quando não temos vivência interior. Esta vivência é algo que cada um tem de descobrir, preencher, de muitas formas o pode ser. A fé tem algo de positivo, de bom, ajuda muito. Eu não quero especificar que a fé deva ser isto ou aquilo. Eu não tenho vergonha nem receio de dizer que acredito em Deus, na vida de Jesus e Seus pais e em todos que de uma forma pura transmitiram a sua palavra. Mas não ouso julgar quem noutra religião acredita, desde que respeite a vida, o amor, a paz, a sã convivência entre todos os povos.Mas o momento é o de questionar porque se alteram certos rituais que só embelezam de uma forma pura o acto solene que é comungar em festa.
Admiro muito quem trabalha, quem faz algo. Não sou muito dado a esses trabalhos, mas tento ajudar de outra forma, mais discreta, mas que acho que deve acontecer. A Freguesia ainda vai tendo gente. Os andores ainda encontram ombros para os carregar. São menos, mas ainda os há. Eu costumo acreditar que pouco é muito diferente de nada. Quando temos alguma esperança, não é o mesmo que estar pelo chão, morto, já sem vida. Por vezes assistimos a renovações mesmo a partir de uma pequena semente, uma erva que quase secou mas com a chuva voltou a rebentar e a encher o prado de uma cor viva. Com os homens também é algo parecido. Por vezes basta um para começar aos poucos grandes mudanças. É sempre necessário alguém dar o primeiro passo, aventurar-se, não ter receio. Quase sempre acontece que alguém lhe vai seguir os passos, e mais outro, e mais outro.
Muitas actividades que acontecem quer no âmbito religioso quer na acção social, depende do voluntariado. O caso da Catequese é um bom exemplo. Acho que ninguém esquece por completo a catequese, muito menos quem a ensinou. Eu lembro muito bem a Senhora Miquinhas do Martins. Não sei se são os meus olhos que a assim vêem, ou se é alguma graça divina que escolhe determinadas pessoas para exercerem estas funções. No meu caso tive o privilégio de conhecer tão encantadora pessoa. E não era fácil ter paciência com aquela "canalha" toda. Ao redor, sentados em bancos de madeira corridos, na antiga cozinha, que agora vista mais ao longe, mais se parece com uma pequena ermida, no alto de uma pequena fraga. Até o local onde aprendíamos era especial, acolhedor. Como era bom ir para os campos e passar na "vinha do Martins", com os seus campos em escadinha, que descia tanto quando íamos para o campo, como subia quando vínhamos carregados com os molhos do pasto para o gado. Mesmo no pico do verão, a sombra das videiras e das árvores de fruta mantinham aquele lugar aprazível. Quantas vezes enganávamos a barriga com a fruta que apanhávamos do chão, quase sempre. Nesta obra que é ensinar, cuidar, plantar árvores de todas as espécies, para um dia se poder colher, haverá sempre a mão do Homem, a bênção da natureza e a graça de Deus. Peço perdão por muitas orações já ter esquecido, fraca memória ou apenas o deixar de as dizer. Mas sei que mas ensinou, como a todos os outros miúdos. Agora como pai algumas vou aprendendo com os filhotes. Que eles tenham a sorte de um dia recordarem a catequese e a catequista como eu recordo. que sejam mais afortunados na memória ou não deixem de as dizer, as orações que aprenderam. O meu muito obrigado à Senhora Miquinhas que já partiu mas que ainda vive nas recordações de todos que a conheceram.