segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Voando


    Mansores - vista panorâmica de uma parte do lugar das Agras


Voando

Vou juntando todos os pauzinhos,
que sempre encontro pelos caminhos.
Vou guardando todas as pedrinhas,
aquelas que estão mais sozinhas.
Para que coisa fazer ainda não sei,
mas ainda  assim as guardarei.
Se algo em mim um dia despertar,
será sempre coisa útil o guardar.
Assim como guardo sentimentos,
que de mim se vão desprendendo.
Temo perdê-los, isso não querendo;
quero vivê-los a todos os momentos.
Um dia vou construir pequena jangada,
Que não navegue, apenas se torne leve,
E assim se eleve no céu da minha alma,
E me leve ao encontro da minha amada.
Por cima das colinas irei planando,
Bem lá no alto, longe, aos pássaros
me juntarei, para lá do horizonte,
minha sorte buscarei, sem medos,
que no chão nunca irei cair,
tão perto do céu estarei,
tão perto do paraíso para onde quero ir.
Das pedrinhas uma torre farei,
Onde sozinho me fecharei.
Sempre à espera estarei,
de ti, que sempre amarei.

Segunda-feira, dia 11 de Fevereiro de 2013

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Sonhando


   Mansores - Lugar das Agras - " O meu berço de oiro"



Sonhando

Escrevo para adormecer a mente,
embalá-la, em suaves recordações,
pequena criação, imaginada.
Quero adormecer, todo o meu ser,
e continuar a longa caminhada,
aquela que ainda sonho fazer.
Dormindo, me levantarei,
por suaves encostas caminharei.
Lá mais ao longe, para além do olhar,
onde só a mente alcança, inventa,
meus sentidos despertam, posso tocar,
 os aromas sentir, leves murmúrios ouvir,
uma doce e suave claridade me afagar,
e, num suave gesto, teu rosto acariciar.
 Sentados, membros entrelaçados,
partilhando as mãos, olhos nos olhos,
na alma, o mundo dividindo por igual,
que num todo em nós se transforma.
Nessa quietude de movimentos,
embalando todos os sentimentos,
nos amaremos, nos idolatraremos,
sossegando o mundo em redor,
tudo transformando em amor,
no nosso amor, que ainda dorme,
acordado só no sonho, imaginado,
na tenra alma de criança sonhado,
tona-se adulto, sem nunca o ser,
sem nunca ter de crescer,
sem nunca haver de morrer.

Quinta-feira, dia 07 de Fevereiro de 2013 

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Carreiros


   Mansores - Vista típica dos campos de cultivo em socalcos





Carreiros
               
Talhados pelos pés, de gente cansada,
descalços ou arrastando algum calçado,
serpenteiam as encostas, todos os vales.
levam-nos a todos os lugares do mundo,
deste pequeno mundo, pois não há mais nenhum,
assim como este, feito à medida dos pés,
que por eles passam as vezes que puderem,
não as que quiserem.
De passo mais demorado quando encosta acima,
desenfreada corrida de canalha, encosta abaixo,
ou acima. Nem o pregueiro a apanha:
- Tomem lá juízo, tenham cuidado, ainda arranjam trabalhos!
- Raios partam a canalha, não ouvem, ou não querem saber.
Apenas da largura de ombro a ombro,
o mato ali não cresce. O chão polido,
suave aos calcanhares descalços.
Vistos de longe, quando o mato cobre gente,
mais parecem luras de coelhos.
Encurtam caminho, não as canseiras,
não o esforço, de canado à cabeça,
Algum molho de lenha ou carquejas,
Uma giga de erva cortado no lameiro.
O açafate com o comer para os Homens,
com algum cuidado, não vá o caldo entornar.
Para quem pelos montes anda a trabalhar,
lá mais em baixo, junto ao rio,
lá mais em cima, nas pedreiras,
aquelas onde a pedra é dura de roer.

Desde o começo do mundo,
deste pequeno mundo,
sempre existiram, nem sempre existirão.
Não conheciam dono nem senhor,
apenas os caminhares que por eles passavam.
Respeitados outrora, estimados,
pelo povo que labuta, caminhos sagrados.
Passava o pobre e o rico, o mendigo e o ladrão,
Todos à procura de ganhar o pão.
Para as festas nas Ermidas, lá no alto,
para os lameiros, junto aos rios,
às levadas, para os moinhos.
Para as pedreiras, lá no Castêlo,
onde a pedra dura, de granito,
deixava o corpo do pedreiro aflito.
Paulatinamente abandonados,
depressa foram apoderados.
Restam poucos, fica a lembrança,
ainda uma réstia de esperança,
de que estes ainda perdurem,
desejando o regresso dos caminhantes.

Aos carreiros que outrora ligavam toda esta pequena Freguesia de Mansores. Estreitos, apenas para se passar em fila indiana, alargavam-se quando alguém se cruzava em sentido contrário. Não se ficavam pela Freguesia, prolongavam-se por todas as Freguesias vizinhas com quem se fazia fronteira. Sem impacto ambiental, apenas se reconheciam pelo chão polido, sem vegetação. Alguns mais trabalhados, com pequenas escadarias, para melhor se ultrapassar os declives. Poucos ainda restam. Já poucos os respeitam, muitos foram tomados pelos donos dos terrenos com quem confrontavam. Todos assistimos de braços cruzados, não querendo levantar a voz, denunciar quem comete este abuso. O poder local é complacente e conivente nesta tomada de posse de muitos carreiros pelos proprietários dos terrenos que confrontam com os mesmos. O mesmo se passa com os terrenos ditos “maninhos”, muitos de uso dos aldeões para terem os seus lenhais, o mato para a cama do gado. Desde os primórdios que os seus antepassados fizeram uso deles. Agora, tudo é retirado, tudo é vedado, já pouco resta. Sinais dos tempos do Homem.


Ser livre




Ser livre

Quero resgatar-me do mundo,
comprar a minha liberdade, se preciso for.
Por algo que valha, que seja pouco o valor,
que o meu bolso não é fundo.

Na medida dos Homens foi avaliado,
para préstimo pouco ou nada valho.
Mas libertado não sou. Acorrentado
me prendem, como um bandalho.

Correntes de aço invisível, geladas,
com aloquetes sem chave, fechadas.
Se nada nem alguém me vale, me acode,
continuarei servindo quem manda e pode.

Vou rasgar as correntes, minhas vestes. 
Despir-me dos meus vícios, sacrifícios.
Morrerei fustigado pelos ventos agrestes,
mas livre, mesmo na minha condição pequena.

E já morto, poderei a liberdade viver,
sem nenhuma corrente me prender,
sem a algum dono ter que  obedecer,
sem nada haver, com nada para perder.

Sábado, 02 de Fevereiro de 2013