domingo, 19 de agosto de 2012

Quem conta um conto,...



( Cruzeiro, simbolo da religião católica - em frente à Capela de Santo António - lugar das Agras - Freguesia de Mansores - Concelho de Arouca )


Falar sobre os sinais dos tempos sempre foi algo que me despertou muita curiosidade. Sempre que o faço muitas dúvidas me surgem. Tenho por hábito procurar nos escassos conhecimentos que tenho da história mais recente, algo parecido, algo que aparentemente já se tenha passado, em tudo semelhante ao que se vive hoje. É sempre um passo no escuro fazer uma espécie de “colagem” das soluções achadas nesses tempos para resolver problemas iguais ou em tudo semelhantes. Fácil é compreender que o que lemos ou estudamos do passado é um registo de Homens. Por esse facto, a informação que adquirimos é simplesmente a visão de quem relatou esses acontecimentos. Por muito imparcial que o “historiador” ou o “cronista” do passado tenha sido, nunca deixará de ser a sua percepção dos acontecimentos que presenciou ou que obteve informação. Encontramos com alguma facilidade relatos muito diferentes deste ou daquele acontecimento. Sei que na maioria dos casos não houve intenção de deturpar a realidade, apenas o “contador” relatou, anotou os factos que para si suscitaram maior interesse, foram mais marcantes. A associar a tudo isso, estamos muito dependentes da mensagem que ele nos queria transmitir. Por vezes determinado acontecimento apenas serve como catalisador para exprimir as suas teses, serve de pano de fundo ao cenário que pretende elaborar. Dito isto desta forma fica no ar a suspeição de toda a história que está narrada em todos os livros ou outras formas de a transmitir. Basta pensarmos num acontecimento que está hoje a acontecer e colocarmos dois “historiadores” que há partida sabemos que tem visões politicas, religiosas, enfim, personalidades muito diferentes. Se de seguida analisarmos o seu trabalho verificamos que a mensagem do mesmo acontecimento por vezes é antagónica. Um pouco a história do copo meio cheio ou meio vazio. Tem mais impacto quando além da narrativa observamos as imagens colhidos por um ou por outro. Dai se concluir facilmente que a opinião do cidadão comum pode muito facilmente ser viciada, controlada para os aspectos que a informação pretende. Ou seja, sabemos que a uma determinada informação o ser comum reage maioritariamente de uma certa forma. Se queremos que se apoie uma causa, falamos apenas dos aspectos positivos, compomos a informação com os “ingredientes” próprios, não a “contaminando” com os possíveis acontecimentos “colaterais” que possam existir. Se queremos construir uma barragem falamos dos benefícios da energia eléctrica que vai ser produzida e do seu impacto positivo nas nossas vidas, não esquecendo a parte ecológica. Se somos contra vamos referir o impacto ambiental, a modificação do habitat de muitas espécies, a alteração do leito do rio, a destruição de uma paisagem paradisíaca para o turismo e para as espécies que nela habitam, os terrenos que vão ficar submersos sem produzir, etc.  Não é fácil relatar um acontecimento sem o “contaminar”, deixando todo o espaço para que o leitor possa de uma forma o mais abrangente possível tirar as suas próprias conclusões, elaborar o seu parecer, a sua opinião. É necessário para se entender melhor qualquer acontecimento reunir várias versões do mesmo, procurando obter os elementos que achamos de todo necessário para visualizarmos mentalmente todo o acontecimento. Desde os aspectos sociais da época, políticos, religiosos, culturais, tudo tem que ser considerado parte substantiva do acontecimento que pretendemos interpretar. Se alguém dá um tiro noutro, o acto por si só é reprovável. Se no entanto o descrevermos como agindo em sua própria defesa o julgamento moral que fazemos é diferente. Muitos exemplos se podem falar para tentar validar esta “teoria”, esta forma de ver as “coisas”.
É importante perceber que não estou a falar nos casos em que o descobrimento de novos factos vem deitar por terra conceitos tidos como verdade absoluta. Essa situação é completamente diferente. O que eu tenho estado a falar é da forma como se vai registando, interpretando a história e essa interpretação vai sendo difundida, ensinada a todas as gerações vindouras que não presenciaram os acontecimentos. Costumo chamar aos historiadores “fazedores da história”, mais especificamente, “aos anotadores da história”. O termo “fazedor” é prepositado dado que considero que a história que existe escrita ou registada sobre tudo que aconteceu ou vai acontecendo é em parte fruto da criatividade, do engenho, da visão pessoal do historiador, e o acontecimento em si é apenas uma mera forma de “acreditar” a sua tese, a sua forma de valorizar este ou aquele conceito, pensamento. Não estou a chamar “mentiroso” ao historiador. O meu conceito de mentira é diferente, consiste em deturpar propositadamente e com fins objectivamente bem definidos o acontecimento. Ou seja, o “historiador” sabe que mente, mas fá-lo com uma determinada lógica, objectivo. No caso “tradicional” o historiador esforça-se por registar o mais exaustivamente em pormenores o acontecimento mas está naturalmente “condicionado” ao estatuto de ser Humano, e como tal, sujeito às “deturpações” naturais da sua forma de interpretar e consequentemente registar o acontecimento.
Ao exprimir esta forma de ver, surge naturalmente uma questão elementar: qual será a melhor forma de registar um, acontecimento, fazer a história? Acho que não existe uma que seja apelidada de “verdade absoluta”, objectivamente e subjetivamente “imparcial”.  Resta-nos em ultimo caso, estarmos atentos, procurarmos sempre várias fontes para as contrapormos, conhecermos a personalidade do historiador, para então conseguirmos elaborar mentalmente todo o acontecimento, todas as envolvências possíveis da passagem que estamos a ler ou a estudar. Eu sei que todo este pensamento é teórico, talvez inexequível. Devemos concluir que a verdade absoluta de um facto ou acontecimento dificilmente existirá. Não devemos à partida excluir outros pontos de vista diferentes, muitas vezes o oposto do que achamos ter sido. Quantas vezes, após presenciarmos um acontecimento e mais tarde quando o descrevemos, somos confrontadas com certas perguntas para as quais não temos uma resposta que possamos afirmar convictamente de ser “a verdade”? O ditado é velho: “ quem conta um conto, acrescenta um ponto.”

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