domingo, 15 de julho de 2012

A estrela mais distante






A musica, sempre a musica. Desde os tempos em que o tempo começou, sempre a musica, sempre os sons, os ritmos, o conseguir estabelecer uma harmonia que nos toca, nos faz desviar o olhar na sua direcção. Um pouco à semelhança de um qualquer outro flash que surpreende o olhar, nos faz parar, fixando nosso olhar como se nos partisse em dois, enquanto o corpo segue numa direcção o olhar fica preso, fazendo a cabeça rodar até ao limite. Uma flor mais bela, uns olhos tão intensos, umas feições de rosto e corpo que nos sufocam. Mal conseguimos respirar, quase nos esquecemos de respirar. A nossa natureza é sempre um mistério. Não sei dizer, estabelecer uma fronteira entre o que é genético e o que é aprendizagem. Será por exclusão de partes, por afinidade, por instinto, por tudo que fomos aprendendo, moldando, um tomar de posição, uma escolha, uma forma intrínseca de estabelecer a escolha mediante padrões já interiorizados, uma carência de algo mesmo que momentânea, um desvario da mente, uma fuga por não se querer mais o mesmo caminho percorrer. De que forma for, o certo é que acontece. Não dá para percorrer as cinco etapas do método cientifico, nem voltar a repetir só para confirmar. Somente acontece, acontece sempre que acontece. Não existe nenhum bloqueio interno que nos permita anular esta reacção, este instinto, penso eu. Mesmo que exista nunca o vou activar por minha vontade. Anseio sempre que os elementos me surpreendam, me prendam o olhar, a alma, tudo que em mim existe.Gostaria de  Caminhar sem me preocupar com que acontecerá ou não. Vou estabelecendo pequenas metas para me manter motivado, desejar a outra margem quando desta me cansar. Para a alcançar farei o que tiver que fazer. Existem as pontes, mas nem todos os rios as tem. Umas margens são mais chegadas que outras, por vezes quase se tocam para logo de seguida, mais adiante se afastarem por vezes até já não se verem. O que as afasta será o caudal, a dimensão que o rio entretanto toma? Ou será simplesmente pela forma da seu leito que isso acontece? Poderemos dizer que por mais que se afastem existirá sempre a camada submersa da crosta terrestre que as une? Não haverá decerto uma divisão física total. Mas este afastamento pode ditar muitas diferenças na fauna e flora que nelas irão habitar, fazer a sua vida junto a cada margem. Sempre gostei de rios pequenos, ainda meninos, daqueles que nascem pequeninos. Será um pouco por temer me afogar em grandes leitos, sem o fundo se ver. Será de certo mostra de grande coragem em águas profundas mergulhar, sem medo, aceitando todas as tormentas que dai possam vir. Um pouco como não hesitar numa aventura entrar, sem conhecer, sem nada garantido, com o futuro futuro, desconhecido até ser vivido. Na ,maioria das vezes os pequenos planos do dia-a-dia ou da semana servem para preencher, manter motivado. Há no entanto muitas vezes uma sensação de que não chega, de que mais valia arriscar mais, ter forças que cheguem para mais outra demanda querer. Quando somos jovens é mais fácil. Se somos despedidos logo estamos a laborar noutro local. Se a namorada nos deixa, após algum sofrimento estamos de volta ao mundo dos que eternamente se apaixonam. Com muitas mudanças vividas já não é assim, pelo menos para mim. É mais fácil extravasar esses sentimentos nas linhas que, sempre que me apetece, escrevo. Gosto sempre de o fazer ouvindo sons que decerto existem desde o inicio dos tempos, mas de certeza agrupados desta forma única que eu adoro. Os concertos ao vivo são os meus eleitos. Talvez porque sinta necessidade de me sentir rodeado de uma multidão anónima que solta gritos de euforia, de uma forma única, sem se preocupar com formalidades, pois naqueles momentos tudo é possível, tudo é socialmente aceitável. Um pouco à semelhança de deixarmos os nossos instintos mais primitivos do que somos origem libertarem-se, funcionando a musica como uma poção mágica que nos solta do corpo, do peso da nossa vida diária. Somos livres de voar pelos céus, mergulhar nos oceanos mais profundos, correr sem nunca nos cansar pela maior pradaria que se possa imaginar, sempre, sempre, por todo o sempre que será aquele instante. Um pouco assustador de pensar, mas quando acontece é assim, deixamo-nos possuir pela magia, desejamos que assim aconteça, necessitamos que esses momentos existam sempre. Não é uma dependência, mas antes uma natural necessidade, igual a tantas outras, como respirar. Mas voltamos sempre ao sitio de onde partimos, de onde o nosso corpo nunca saiu. Mas seremos muito diferentes quando regressamos, nem que seja apenas por um breve instante.

Parado, em frente a ti me inclino. De joelhos por terra, o tronco curvado, apoiado nas palmas das mãos, na tua face fixo o olhar. Desejo contemplar o meu reflexo, sentir a forma como me vês, pois em águas tão profundas tenho medo de mergulhar. Se ao menos eu soubesse, houvesse alguém que me ensinasse a forma de não me afogar quando em ti me aventurasse. Não encontro nem coragem nem quem me ensine, apenas me resta em ti o meu rosto contemplar, pois já há muito que deixei de avistar a outra margem. Ao certo não sei a vegetação que a cobre, a fauna que a percorre, como serão os dias e as noites por lá. Decerto não muito diferentes das desta banda já que da mesma água bebem, do mesmo sol se alimentam. Serão por certo as mesmas estrelas que contamos quando a noite é transparente, podendo ver-se o seu leito todo coberto de luzes que brilham ao nosso olhar, umas agrupadas outras mais dispersas. Tantas que não consigo contar, apenas sei que brilham ao olhar, ao nosso olhar. Naquelas noites, que são dias com uma luz diferente, mais ténue, mais intima, o coração e alma baloiçam nesse jardim Celeste, que fica além, agarrado ao nosso olhar quando no chão nos deitamos e apenas só a Ele contemplamos, querendo mais que tudo ver o nosso reflexo neste oceano de luz azul calmo e frio,  que se estende desde a nossa face até à estrela mais distante.

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