domingo, 8 de julho de 2012

Descobrir o caminho



Não consigo deixar a vida somente continuar. É certo que a vida sempre continua, mas não a quero deixar assim tão distraída. Ela, a minha, já é uma mocinha grandinha, com idade para ter algum juízo. Não a quero muito sisuda, apenas ajuizada, brincalhona o quanto baste, e por vezes vou deixá-la andar um pouco distraída para que não se aborreça comigo, nem eu com ela. Bem, a continuar assim parece que já não sei o que quero. Sim, afinal o que quero? Para aqui a tentar alinhavar ideias, definir um caminho a seguir, e nada consigo. Umas vezes quero pegar na velha mochila e partir sozinho à aventura. Uma aventura qualquer, daquelas que eu costumava fazer quando o mundo ainda era outro, menos pesado, menos apertado. Era tão simples essa vida. Sem medos, sem receios, lá ia o menino serra da Freita acima. A viagem era pequena, mas era como se entrasse num universo tão diferente, tão próprio de montanha alta e majestosa. O caminhar por espaços infinitos, descobrir este ou aquele pormenor para fotografar. Sentia-me bem, não tinha hora para voltar. Tantas vezes a noitinha é que me dizia que estava na altura de a casa regressar, para o aconchego da casa dos pais, a refeição já pronta, a cama me esperando para adormecer comigo. A minha forma de viver na altura era peculiar. Estudante, trabalhador sempre que dava em casa dos pais na agricultura, ou tantas vezes por conta de outrem para ganhar alguns tostões que tanto jeito faziam durante o tempo de aulas. As "férias escolares" eram apenas um tempo diferente. Nunca fui a qualquer lado, viajar, ficar um tempo fora. Quase todos os meus amigos por aqui sempre estiveram, sempre ficaram. Quando se é pobre é bom existirem muitos pobres em redor. Assim somos todos iguais, nunca estamos sós. Não sei o que pensa ao ler estas frases, mas continuo a dizer que é bom ter pobres em redor, não foi distracção no escrever, no pensar. "Afinal de contas", compreende ou não o que quero dizer? É assim que eu penso, que eu fui feliz e eles também. Hoje temos casa, carro próprio, uma série de mordomias e que tempo passamos juntos, nos divertimos? Eu sei que a vida é outra, mas não tinha que ser necessariamente assim. Eu não me estou a queixar, apenas não encontro jeito de argumentar, mostrar para você que existem muitas formas de ser feliz, de estar em equilíbrio, de nos sentirmos saciados no corpo e na alma. Quantas  vezes passamos de carro e vimos alguém a pé, num dia de chuva e vento. O primeiro pensamento que nos vem à cabeça é " pobre coitado". Mas porque é um pobre coitado? Por não ir no conforto de uma viatura? Mas será tão trivial assim este opinar como verdade absoluta? Tantas vezes já sai por ai a caminhar, mesmo com chuva e vento, querer sentir a força da natureza, envolver me com ela, a água tocar no  rosto, tão fresca, tão pura, nascida lá no alto, junto aos anjos, junto à morada dos Deuses. Como sinto inveja daqueles que enfrentam os elementos, tem coração e força para pedalar, correr e saltar. Como me sinto livre quando o faço, sem motores a incomodar os ouvidos, apenas ao vento gritar o mais alto que poder.
Quantas vezes nos meus passeios pela quinta me deparo com tantas formas de vida que por ali habitam. Fico a pensar como é que eles conseguem viver, sobreviver no meio de tantas incertezas, tantos perigos que os rodeiam. Não tem casa com tranca, são tão frágeis ao meu olhar, como podem eles andarem por aqui desde muito antes de existirmos. Existe uma passagem na Bíblia que diz mais ou menos isto:" - Olhai os lirios do campo, como eles crescem: não trabalham nem fiam e eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles~". Todos compreendemos esta frase ao olharmos com atenção a vida na natureza. Eu sei que nunca vou compreender tudo, mas gostaria de saber encontrar o equilíbrio nas coisas simples, ser feliz com coisa pouca, fazer os meus felizes assim, desse jeito.

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