quarta-feira, 13 de junho de 2012

A nova escravatura

Lançando um olhar sobre o mundo actual, várias situações prendem a minha atenção. Reflectindo um pouco, vasculhando a história recente, parece que algumas situações que acontecem são uma repetição do que há poucas décadas já vivemos, enquanto sociedade. Não sendo do tempo da ultima grande guerra, fico no entanto preocupado com os sinais negativos que crescem dia-a-dia. Esta questão das dividas Soberanas é muito séria. Qualquer país necessita de estabilidade quer a nível politico quer financeiro. A ruptura de qualquer um deles traz consequências que não são mensuráveis antes de acontecer. Isto é um pouco do que se passa à semelhança dentro de uma família. Podemos não perceber nada de politica ou economia, mas sabemos com facilidade ver o que altera o equilíbrio de uma família. Com o país é igual, só que noutras dimensões. A atitude das grandes potencias não é adequada para resolver as situações. Pode ser legitimo pensar que esta crise interessa a uma das partes. De facto, "na natureza nada se cria e nada se perde: tudo se transforma". Um pouco à semelhança de um qualquer jogo de sorte ou azar, o que uns perdem, os outros ganham. Mas os povos aguentam o sofrimento até um ponto. Passado esse limite, começam as convulsões sociais, o povo sai às ruas, torna-se incontrolável. Penso que os grandes lideres saberão disso. Então pelo que esperam? É urgente alguém tomar uma posição de frontalidade para os problemas reais e procurar soluções viáveis e de uma forma sustentada para o futuro. Não se pode andar sempre a remendar a roupa velha. Há um momento em que já não dá mais, são precisas novas visões, outro pensar mesmo a nível económico. Todos sabemos que o equilíbrio da nossa sociedade actual assenta no crescimento. Mas também sabemos que é utópico pensar que se pode estar sempre a crescer. Haverá um ponto em que já não dá mais, todas as soluções esgotarão. Numa árvore de fruto procede-se à poda todos os anos. Isto para provocar um novo renascimento da própria árvore, continuando a dar fruto. Se não se fizer, a árvore passados alguns anos terá só troncos velhos, sem produzir.
As sociedades tem que ter a capacidade de se reinventar dentro delas, não precisarem de invadirem e escravizarem outros povos mais débeis para alimentarem as suas luxurias. A globalização da forma que está a acontecer não é benéfica para os povos mais pobres. Não sei mesmo se a globalização é a melhor forma de estabelecer harmonia entre os povos. A procura do domínio do mundo será sempre uma realidade. As grandes potências mundiais sempre mostraram que o seu principal objectivo é garantir o bem estar dentro das suas fronteiras, para o seu povo. Vão criando hábitos de vida cada vez mais difíceis de sustentar, necessitando obter recursos naturais a qualquer preço, orientando as politicas económicas de modo a sufocarem quem não lhes obedecer.  Associam a isso o poder militar para que não hajam dúvidas. Se necessário é provocar uma guerra neste ou naquele país, não hesitam, não pensam nos milhares de inocentes que irão morrer ou ficar a sofrer. Da mesma forma atacam o tecido económico da forma mais bárbara que se possa imaginar, não parando enquanto não o destruírem. Depois obtém o monopólio e ditam sozinhos as regras que querem. Numa dependência quase total, os povos dos países pobres são escravos livres. Sim, porque esta nova forma de escravatura é tão degradante como qualquer outra. Não sei se haverá algum dia forma dos estados mais pobres poderem defenderem-se deste tipo de agressão. Dissimulada, meia invisível ao chegar, muito penosa quando se instala. O que realmente me faz mais confusão são os povos, os cidadãos,  desses países apoiarem os seus lideres quando eles na sua maioria já viajaram pelo mundo, conhecem de perto outros povos que também os acolheram. É da maior ingratidão que pode existir, um dia acolher na minha casa um visitante, tratá-lo com todo o respeito e boa vontade, para passado um tempo ver a minha casa ser "saqueada" por esse mesmo viajante. Segundo um estudo já publicado, na Alemanha Nazi, a maioria da população era contra o líder, Adolph Hitler. No entanto deixaram acontecer o que aconteceu. Desde há muito que a Alemanha e mais dois outros países dominam a Europa, a Comunidade Europeia.  Vejam o que se está a passar com os povos dos países mais pobres. Que forma tão triste de se fazer parte de uma comunidade unida. Eu não quero dizer com isto que também não hajam falhas dentro dos países mais pequenos. Existem, devem ser corrigidas. Mas num grupo de amigos, quando um é atacado, todos reagem a defendê-lo. Neste ataque dos mercados financeiros, as vitimas foram presas fáceis, tirando proveito de terem sido abandonadas pelo grupo, ficando expostas, vulneráveis, indefesas. Quando observamos o mundo animal é fácil ver como os predadores atacam, isolando um membro do grupo de forma a ser mais fácil a sua captura. Até um cardume de peixes se defende em grupo. Os mercados financeiros são o que são. Sem qualquer moral ou sentido ético, atacam sem dó nem piedade, destruindo economias, destruindo países completos. Como é que os países mais pobres se podem defender deste caos em que estarão sempre mergulhados? Não é fácil obter uma resposta conclusiva. Existem alguns procedimentos que podem ser adoptados, mas acho que a solução passará pela mentalização dos povos das grandes potências para a imoralidade da atitude dos seus governantes e grandes grupos financeiros. Se um dia todo e qualquer habitante deste pequeno planeta resolver dizer não, seja do jeito mais simples como não ir trabalhar, não pegar no carro, não ligar a TV ou o computador, talvez quem tome as decisões pare para meditar no que realmente está provocando. Mas uma outra questão se me levanta: de onde vem os lideres, que formação tem, são apenas "paus mandados" de grupos de interesses? Realmente que tipo de democracia se está vivendo? É difícil pensar de barriga vazia. Como resultado de toda esta "trapalhada", o desemprego alastra como uma epidemia, destruindo vidas ou simplesmente não permitindo sequer o seu começar. As famílias já não sabem mais que fazer. Quem está empregado ou tem trabalho vive os dias vergado às ameaças dos patrões do despedimento eminente se não acatar tudo que lhe é imposto: salário, horário, condições de trabalho. Quem está desempregado não vê melhoras num futuro breve, vivendo os dias com os olhos postos no eventual fim de um qualquer subsidio que esteja recebendo.
Num mundo pautado pela inovação tecnológica que não para, é fácil compreender que cada vez é necessária menos mão de obra para produzir ainda mais. Como é que vai haver trabalho para todos? Quando uma família se reúne à mesa para uma refeição, normalmente reparte-se o que há entre todos, de forma igual. No caso do trabalho é possível pensar do mesmo modo? Como é que isso seria exequível? Todos os países adoptariam as mesmas regras de forma a que não houvessem disparidades no factor custo da produção de um qualquer artigo? Haveria seriedade, respeitariam todos as mesmas regras do jogo? Será que é possível apenas imaginar? Não seria isto uma forma de doutrina Comunista? Como é que vamos todos fazer para elaborar uma estratégia que assente numa sociedade sustentável mas não retire a liberdade individual ao cidadão comum? Todos nós pensamos em muitas pequenas soluções para esta ou aquela situação concreta que conhecemos. No entanto não conseguimos interiorizar nem alcançar as repercussões que essas alterações provocariam no funcionamento global desta máquina complexa que é a nossa sociedade. Um pouco como apertar um parafuso numa máquina sem medir as consequências que essa alteração vai provocar no funcionamento da mesma. Por muito que pense, não tenho formação nem capacidade para dizer o que é melhor. Limito-me a ser mais um analista de rua, um treinador de bancada. No entanto este "jogo" diz-me respeito pois a minha vida depende dele. Todos os projectos, sonhos que tenho para realizar estão dependentes do rumo de toda a sociedade. Não vivemos isolados, fazemos parte. Quer se queira ou não, poucos podem dizer que o que se passa no todo não os afecta. O meu maior receio é que se cometam os erros do passado, que o ser Humano não tenha mais para dar de si, para visionar outra forma de resolver os problemas que não uma nova "grande guerra".
Sinto-me agoniado só de pensar em tudo que estou escrevendo. Saber que pouco ou nada posso fazer para enfrentar tudo que me asfixia, não deixa viver em pleno, sujeito a cumprir esta e mais aquela obrigação fiscal que me vão impondo. Não é possivel viver à margem desta sociedade, não o permitem. Quem o tenta fica marginalizado, marcado, não tem como escapar. Como chegamos novamente a este ponto, os mercados financeiros a comandar tudo e todos, depois de já num passado não tão distante em que o colapso nos atirou para as bichas na rua à procura de uma sopa? Não há quem consiga controlar este monstro sem misericórdia?

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