segunda-feira, 11 de junho de 2012

Todos os nomes

Sempre que começo a escrever um texto tenho por hábito pensar no titulo que lhe quero dar. Acontece muitas vezes que o texto não se adequa ao titulo. Mas pensando um pouco acho que é ao contrário. É um hábito este pensar assim, para isto ou para aquilo que faço na vida. Vezes de mais nos preocupamos com os "títulos" das coisas, do que queremos fazer. Às vezes acontece não nos metermos à obra só por que nos falta um bom titulo. Que seja, que este texto não tenha titulo, tanto me faz. Quero escrevê-lo e é isso que vou fazer. De uma forma singular vem-me à memória a história dos nossos nomes. Não estou a comparar o nome a um titulo, mas é engraçado ter pensado nisso. Vamos brincar do faz-de-conta, e imaginar como terá surgido o nome de cada um. Bom, imaginar não será o caso, vamos é questionar os nossos pais e ver a atrapalhação deles, que "história" irão inventar. Estou mesmo a ver muita cabecinhas a magicar, a inventar a história que querem ouvir. Por mim acho que não preciso perguntar: tenho o nome do meu padrinho. Isto é, igual, pois ele continua a ter um nome só para ele. Era hábito e costume na minha aldeia os padrinhos darem o nome aos afilhados. E nome mais bonito que igual ao deles não havia. Bom, era assim, todos gostavam. Já com os meus filhotes a história foi diferente, eu e a minha esposa é que escolhemos, e acreditem ou não, mais bonitos que os seus nomes só mesmo eles. Pronto, já sei, todos os pais pensam o mesmo dos seus filhos. Ainda bem que é assim, somos todos os mais bonitos do mundo, pelo menos ao olhar de alguém.
Gosto do meu nome, já há muito que me afeiçoei a ele, desde o baptismo. Isto de não ter nome deve ser complicado, quase como um texto sem titulo. Acho que tudo que conheço tem nome, não me lembro de algo sem nome. Deve ser porque à nascença, no acto em que é criado, descoberto, a primeira coisa que se lembram é de o baptizar. É sim senhor, pensem nas descobertas ciêntificas e no enorme orgulho que o ciêntista tinha em lhe dar o nome que queria, nos descobridores quando avistavam uma nova terra. Não importava o que os outros podessem pensar, era assim que se iria chamar. E ficava assim, todos o chamavam do mesmo jeito. Por vezes acontece mudarem o nome às coisas, as pessoas escolherem um outro nome. Mas não sei que parece, é meio estranho, hoje ser chamado de um jeito e amanhã de outro. Não sei mesmo o que parece. Mas é bom haver essa liberdade, como outra qualquer liberdade no sentido recto da palavra. Mudar o nome pode baralhar hábitos já enraizados, questionar o gosto de quem primeiro escolheu. O nome fica associado à pessoa, ao objecto. Quando falamos de "A" ou "B", não conseguimos separar o nome da personalidade dessa pessoa. Por isso se associa ao nome principal os apelidos da familia progenitora, em geral do pai e da mãe para melhor se identificar a quem nos referimos ( "chapêus há muitos"). Contaram-me que os "Nobres" tem um nome que não acaba mais. Isto porque faz referência até ao inicio da "Dinastia". O meu nome vem acompanhado com um par de apelidos, primeiro o da mãe e de seguida o do pai. Mas a acontecer assim, o que vai passar para para a geração seguinte será apenas o apelido do meu pai, não o da minha mãe. Não sei se concordo muito, se calhar deviamos ser todos "Nobres".
Este gosto de um nome atribuir a toda e qualquer coisa, mesmo até aos fenómenos da natureza, torna mais fácil a sua memorização, o estabelecer de uma ligação com o facto, o acontecimento, a coisa em causa, a individualidade de que se fala. Desde as tempestades e os furacões, aos movimentos politicos ou artisticos, às guerras e suas batalhas, tudo tem um nome. Dar o nome a algo estabelece quase como um laço de paternidade, uma ligação eterna. Se na vida devemos plantar uma árvore, ter um filho, escrever um livro, já nem tudo me falta. Gosto muito de plantar árvores, de fruta ou não, regar, cuidar e ver crescer. A pequena agricultura que faço junto de casa faz-me reviver os tempos de menino com os meus pais. É um mundo diferente, sinto-me senhor do pouco que faço, sinto que crio realmente algo. Um dos privilégios que o agricultor pode desfrutar é o sentir que é parte criativa da mãe natureza.  Num mundo em que cada vez somos mais um elemento de uma qualquer estatistica, sinto a necessidade de procurar algo em que seja singular,  não ser apenas mais farinha do mesmo saco. Esta coisa de seguirmos as estatisticas de tudo e de nada dá-me confusão, revolta. Se somos de uma religião somos este e quele, se pertencemos a um partido a mesma coisa, e por ai adiante. Poucas vezes somos realmente descobertos, avaliados no nosso todo, seres únicos. É importante sentir uma condição de singularidade, afirmarmo-nos pelo nosso ser, dar ao nosso nome uma forte personalidade, deixar alguma marca, por mais ténue que possa parecer. Se não chegarmos mais além, que onde se chegue se faça sem perder os valores da honra, da dignidade, do respeito pelos outros e também por nós. A tentação de "cortar caminho", ir pelo mais fácil não deve ser opção. Uma grande construção deve assentar em bons alicerces. Se assim não for, com o tempo demoronar-se-á, tombará por terra, ficando apenas um monte de entulho. Que a nossa vida seja mais do que isso. Que de alguma forma possamos marcar o nosso tempo com a nossa presença positiva, empreendedora na construção de algo. Que os dias sejam longos e cansativos, mas sempre livres. A interpretação da liberdade é um grande desafio a todas as nossas capacidades. Só se é realmente livre quando se respeita também a liberdade dos outros. Oxalá que a nossa vida seja uma história com nome próprio e apelidos, diversas personagens, todas principais, num cenário real com muita imaginação.

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