terça-feira, 9 de outubro de 2012

Pequena passagem





Conta-se que, há muito tempo, existia um fotógrafo que andava de terra em terra a fazer o seu trabalho para ganhar o pão de cada dia. Tempos miseráveis que exigiam muito engenho e arte para se poder granjear uns mingados tostões. Nessa luta diária, lá ia o fotógrafo com o seu laboratório e máquina fotográfica tentando conseguir o maior número de aderentes a querer imortalizar-se pela arte da fotografia. Chegado a uma determinada terra, montou a sua tenda no largo da Igreja. Era domingo, o povo da terra estava participando na missa Dominical. Resolveu aguardar que a Missa terminasse para “apanhar” o maior número de pessoas. Quando as pessoas começaram a sair da Missa, que tinha terminado, lá estava ele se anunciando às portas da velha Igreja, pedindo a todos que se juntassem pois gostaria muito de os fotografar.
                - Não demora nada e custa muito pouco. – Dizia ele em voz alta que se ouvia em todo o adro. Alguns mais reticentes que outros lá foram acedendo ao pedido e em breve estavam todos juntos, prontos para a tão problemática fotografia dos habitantes da terra. Já com a máquina pronta, o forasteiro dirige-se assim às pessoas:
                - Obrigado pela Vossa disponibilidade. Eu estou aqui para vos tirar... – Mal acabava de dizer a última palavra, alguém ergue bem alto a sua voz e diz o seguinte, enquanto já se ia afastando do grupo em direcção a casa:  
- A mim é que não me tiram nada. Homessa, pensa que eu sou algum tolo ou o quê? – E deste jeito todos se começaram a inquietar enquanto o pobre fotógrafo tentava explicar que apenas iria “tirar” o retrato da comunidade. Enfim, esta falha de comunicação levou a maior parte a dispersar-se e ir para casa, sem que  se lhe tenha “tirado” a fotografia.

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