António Emílio Leite Couto, mais conhecido por
Mia Couto, biólogo e escritor de profissão, nasceu a 5 de Julho de 1955. Nasceu
em Moçambique na cidade da Beira, capital da Província de Sofala, sendo filho
de portugueses.
Os primeiros poemas publicados datam de 1969,ou seja,
tinha apenas 14 anos. É hoje visto como uma referência na literatura africana e
mundial. É considerado um dos melhores escritores africanos do século XX.Com os
seus livros ganhou vários prémios, destacando-se o livro “Terra Sonâmbula” que
é considerada um dos doze melhores livros Africanos do século XX.
Mia Couto usa na sua escrita uma linguagem muito rica em
neologismos. Ou seja, gosta de “inventar” palavras. O significado dessas
palavras “inventadas” é de fácil compreensão
para o leitor, tornando-se um pouco uma das suas marcas pessoais.
As suas obras reflectem muito toda a sua experiência de
vida, muito diversificada e ligada ao conhecimento. Numa breve análise à
biografia vemos que começou por estudar medicina, seguiu-se a actividade
jornalística em vários campos, acabando por tirar o curso de Biologia na área
de Ecologia em 1989. Durante todo este percurso de vida nunca abandonou a
escrita, sendo ela uma paixão constante (nos vários géneros).
Escrita essa que se encontra hoje traduzia em várias
línguas, e com um número considerável de leitores amantes da sua escrita e da
sua forma peculiar de comunicar. É hoje o escritor moçambicano mais traduzido e
divulgado no estrangeiro. Em Portugal já vendeu mais de 400mil exemplares o que
demonstra a progressiva adesão dos leitores às suas obras.
A maneira como escreve reflecte muito a sua ligação à Vida,
à Terra, às Raízes, às tradições, aos mitos e lendas, às memórias que todos os
povos possuem. Não é em vão que ele diz que “cada homem é uma raça” ou “cada
velho que morre é uma biblioteca que arde”. Mesmo tendo uma escrita de fácil
leitura, é muito rica em simbolismos e com mensagens intrínsecas muito
complexas revelando a sua ligação pessoal e profissional à Terra, à flora, à
fauna, e aos povos que nela habitam conseguindo estabelecer ligações de
culturas milenares com os meios de conhecimento actual e diagnóstico actuais. Revela
uma vocação e génio natural para assimilar na sua escrita o Homem e a Terra
como algo inseparável, presos por um cordão umbilical em que o bater do coração
é único.
Identidade
Preciso ser
um outro
para ser eu mesmo
para ser eu mesmo
Sou grão de
rocha
Sou o vento que a desgasta
Sou o vento que a desgasta
Sou pólen
sem insecto
Sou areia
sustentando
o sexo das árvores
o sexo das árvores
Existo onde
me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro
No mundo que
combato morro
no mundo por que luto nasço
no mundo por que luto nasço
Mia Couto
1
–
Com isto entendo que o poeta necessita de viver várias realidades para saber
quem realmente é.
2
–
Com a expressão “Sou grão de rocha” o sujeito poético assume-se como parte
integrante de algo maior. Se o grão é o indivíduo, a rocha irá simbolizar a
sociedade no seu todo. O erosão provocada pelo vento é a mudança (erosão).
Podemos comprovar essa força abrasiva através de alguns textos sobre a
sociedade actual. De autoria de Mia Couto. Textos esses que emitem uma opinião
muito critica sobre os valores que actualmente se defendem na nossa sociedade.
6
– Ao
analisar a última estrofe concluo que num mundo em que o poeta não se
identifica, que combate, não consegue viver. Na sua obra literária, no mundo
criado pelas palavras e ideias que defende, ele nasce como poeta e estadista do
seu tempo.
Analisando formalmente,
é de realçar a irregularidade métrica e estrofica. O recurso a algumas figuras
de estilo, como as metáforas, ou a anáfora nas 2º,3º,4º estrofes…
è Este
mostra-nos que podem existir diversas mensagens dentro de uma simples frase.
Conclusão:
Eu
escolhi este poema porque gosto muito dele. Numa linguagem simples ele
deixa-nos a pensar. Isso é que é a verdadeira arte. A interpretação e valoração
do sentido do poema saem do domínio do poeta e passa a ser algo único em cada
leitor. Quero com isto dizer que cada um de nós deve ter a sua interpretação
própria e única. Espero que tenham gostado não só de o ler mas de o interiorizar,
imaginando todos os sentidos que cada estrofe possa ter.
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